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Uma janela para a vida... ou morte:
a problemática dos prédios espelhados para as aves
Fonte: Freepik
De acordo com o Clube de Observadores de Aves de Porto Alegre, a colisão com vidraças é a segunda causa de morte desses animais no mundo. O choque com barreiras físicas de vidro faz milhares de vítimas, todos os anos. No Brasil, onde os estudos recém iniciaram, ainda há poucos dados. Em Porto Alegre, a discussão é incipiente, mas a cidade já deu um grande passo, com a assinatura do Decreto Municipal Nº 21. 789, de 19 de dezembro de 2022, que “Regulamenta o Programa de Premiação e Certificação em Sustentabilidade Ambiental de Porto Alegre, instituído pela Lei Complementar nº 872, de 10 de janeiro de 2020, e estabelece critérios para sua obtenção”.
Essa andorinha-de-bando voou entre esse pequeno espaço com uma velocidade maior que 45 km/h! | Foto: Keith Ringland / ABC
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A bióloga Soraya Ribeiro, doutora em Diversidade e Manejo da Vida Silvestre pela Unisinos, que atua na SMAMUS e é associada da Astec, explica que a visão dos pássaros funciona de modo diferente da visão humana. Eles não enxergam os anteparos transparentes, bem como se confundem com o reflexo provocado pelos vidros. Dessa forma o choque é inevitável e, com o adensamento da urbanização e o aumento do uso de vidros em prédios – nas janelas, portas e muros –, cresce também o número de aves vitimadas pela disseminação desses elementos arquitetônicos. Superfícies espelhadas a uma altura de cerca de três andares, que refletem a vegetação, são os locais mais propícios a acontecer estes choques, pois confundem os animais. Deve-se ter maior atenção em prédios junto a parques e áreas arborizadas devido a esse aspecto. O Setor de Fauna da SMAMUS recebe frequentemente solicitação de resgate de aves que se chocaram com vidros, sendo que a maioria vem a óbito.
“Já existem soluções técnicas para mitigar ou evitar a colisão das aves em vidros. A American Bird Conservancy (ABC), por exemplo, identificou que a maioria das aves evitam padrões de linhas paralelas de pelo menos 0,6 cm de largura e espaçadas até 5 cm. Padrões irregulares que seguem essas diretrizes, também funcionarão. Algumas opções rápidas e econômicas para evitar que os pássaros se choquem contra os vidros é o uso de fitas adesivas ou têmpera, entre outros materiais, para reproduzir os desenhos. Alguns sites materiais e informações gratuitas: http://www.spraypaintstencils.com/; www.birdsmartglass.org; www.birdsmartglass.org. No mercado internacional também há várias opções de telas e outros tipos de cortinas que podem ser fixadas com ventosas ou ganchos (veja www.easyupshade.com;www.birdbgone.com; www.nixalite.com e www.birdmaster.com )”, esclarece Soraya Ribeiro.
Exemplo de fita para aves, chamada BirdTape, da ABC, pode ser aplicado em tiras ou blocos | Foto: Kate Sheppard
A tinta tempera é uma solução lavável, duradoura e não tóxica para prevenir que as aves colidam com as janelas de vidro | Foto: Christine Sheppard / ABC
Nesse sentido, entidades e profissionais de diferentes áreas e instituições têm envidado esforços para elaborar recomendações que possam orientar pessoas e gestores ambientais sobre os principais pontos a serem observados no processo de liberação de obras. Com esse objetivo, workshop realizado em outubro de 2021, com as participações do Clube de Observadores de Aves, com a SAVE Brasil, Avistar e Ecoavis, resultou na elaboração das seguintesrecomendações:
“1. Criar padrões ou desenhos, como listras e pontos, na superfície externa do vidro. Pode-se utilizar materiais específicos para esta finalidade ou utilizar produtos artesanais, desde que o padrão esteja a uma distância de 5 cm a 10 cm, desta forma as aves enxergam a decoração que impede a colisão com o vidro.
2. Colocar adesivos que deixem o vidro opaco ou menos transparente. Dar preferência para vidros que já possuam texturas de fábrica.
3. Utilizar barreiras físicas, como telas, cordas, redes em frente às vidraças. Sendo que os espaços devem ser de 3x3 centímetros, pois assim desencorajam as aves de passarem entre os vãos.
4. Na medida do possível, evitar a colocação de vidros espelhados ou totalmente transparentes, especialmente em muros, janelas e paredes, pois são os que provocam o maior número de colisões.
5. Não sendo possível evitar este tipo de vidro, ou se já fixados, recomenda-se instalar cortinas ou persianas e mantê-las fechadas, ou adotar uma das medidas anteriores.
6. Evitar o uso de vidros que reflitam vegetação do entorno, especialmente voltados para áreas abertas arborizadas, uma vez que as aves não conseguirão distinguir a vegetação existente e a refletida no vidro.
7. Colocar floreiras nas janelas pelo lado de fora é uma boa opção, uma vez que atrai os pássaros e evita o voo em direção às vidraças. Se sugere não deixar flores no interior, pois podem atrair as aves para elas fazendo com que voem em direção às vidraças.
8. Atualmente existem no mercado vidros com reflexão de raios UV, que são visíveis para as aves, recomenda-se o uso destes materiais que denominamos construções amigas das aves.
9. Recomendamos a consulta de material produzido pela Ecoavis Ecologia e Conservação de Aves e pela Bird American Conservation, onde são apresentadas várias dicas de construções amigas das aves, acesse pelo site www.coapoa.org.
10. Por fim, o bom senso sempre é o melhor caminho e a preocupação com o bem-estar e proteção destes animais, que tanto nos alegram, demanda de todos nós atitudes corretas e que gerem benefícios.
As recomendações se basearam em instruções de outras instituições como a Audubon e SAVE Brasil, bem como em trabalhos científicos já publicados sobre colisões de aves em vidraças.”
Soraya Ribeiro alerta que ainda há muito trabalho pela frente no sentido de assegurar a segurança das aves em áreas urbanas, e que a legislação que está sendo discutida em Porto Alegre, embora de extrema importância, ainda tem muito que avançar.
Artigos | Revista da Astec, v. 23, n. 50, março 2023.
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