A rádio que a gente escuta e faz
Cláudio Hiran Alves Duarte
Procurador Municipal de Porto Alegre e Mestre em Direito e Sociedade. Integrante Assessoria Jurídica da Astec - Associado da Astec
E se todos os bairros de Porto Alegre tivessem a rádio que Ipanema tem? Seria uma boa experiência, haveria rádio escola, sarau comunitário, oficinas de comunicação comunitária e muito mais, por toda parte. Na Ipanema Comunitária, como diz o seu lema, as pessoas não pedem música, fazem a rádio – daí a sua vasta e plural programação, que pode ser conferida no dial 87,9 ou em aplicativo disponível na rede.
Haveria mais sociabilidade. As rádios comunitárias são um meio (de comunicação) impregnado de conteúdo democrático sempre tão necessário. Como não se pautam pelo mercado, o conteúdo que veiculam não é o interesse do anunciante, como costuma ocorrer nas rádios comerciais. Livres da economia de mercado, podem se ocupar do que realmente interesse à vida em comunidade: o comum, aquilo que é comum a todos, não pode ser precificado e, por conseguinte, não pode ser privatizado.
O comum é mais que o público. Até pouco tempo, a orla do Guaíba era comum. Hoje se tem de pagar para se ter acesso a alguns lugares, ela foi fatiada, bem ao gosto do varejo.
Que falta faz uma rádio comunitária na Usina do Gasômetro e outra no parque Harmonia, que virou estacionamento. A Redenção também está precisando de uma rádio comunitária. E em Brasília, DF, então, nem se fala, a falta da experiência democrática proporcionada pelas rádios comunitárias apunhalou até o Di Cavalcanti (1897 – 1976). No dia 08 de janeiro, um domingo, uma manada de bolsonaristas destruiu a facadas a obra As Mulatas, que se encontrava no Palácio do Planalto. Um horror que os meios de comunicação comerciais noticiaram como sendo um ataque de “bolsonaristas radicais”.
É compreensível que os meios de comunicação comerciais tenham de adjetivar o que não precisa: como eles têm muitos anunciantes bolsonaristas, precisam fazer uma divisão entre “toleráveis” e “radicais”, para condenar estes absolvendo aqueles. Dão nó em pingo d’água para não perderem os patrocinadores e transformam em “toleráveis” quem apoia a tortura, a exploração e a eliminação de quem não tem poder aquisitivo para ser consumidor no shopping center social idealizado por eles.
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Se é bolsonarista é terrorista. Na melhor das hipóteses, é mal-informado e ingênuo, não sabe que é terrorista, não sabe que o bolsonarismo é o fascismo e que o fascismo é o terror utilizado como regime político no capitalismo em suas crises mais agudas, naqueles períodos em que a sociedade encolhe para acolher apenas as suas formas idealizadas: pessoas brancas, endinheiradas ou donas de meios de produção que acreditam em um Cristo de olhos azuis e com cabelos loiros (pessoas de bem que fazem um mal terrível, por idiotia ou por dinheiro mesmo) e jogar para a morte todos os que não se encaixam nessa fantasia.
Faltam mais rádios comunitárias. Faltam em toda parte e pelo mesmo triste fato: a sociedade encolheu nos últimos anos, descartou muitos seres humanos não selecionados pelo mercado. As rádios comunitárias fazem um movimento inverso, alargam a sociedade, aproximam as pessoas e as recolocam na comunicação – quem não era ouvido pode falar para muitos e debater as causas da exclusão, pode ser “radical” em sentido oposto ao utilizado pelos meios comerciais de comunicação.
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