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Término da obra da Casa de Bombas Vila Minuano, um relato de memória

Foto 1 - Eng. Carlos Bernd e o operador da casa de bombas, à época, sr. Jair, da Cootravipa

Foto 1 - Eng. Carlos Bernd e o operador da casa de bombas, à época, sr. Jair, da Cootravipa

Fonte: Jonas Pluschke / Universidade de Berlim

Carlos Bernd

Carlos Bernd
Engenheiro Civil – Aposentado – Diretor Financeiro da Astec Gestão 2023-2024 - Associado da Astec

Comecei a trabalhar na Prefeitura de Porto Alegre (PMPA), em 1993, como engenheiro da seção de obras do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP). Posteriormente, fui chefe da seção sul e centro da Divisão de Conservação (DC). Após, fui engenheiro na seção de projetos da Divisão de Obras e Projetos (DOP). Depois, retornei para seção de obras, como chefe, a convite da engenheira Daniela Bemfica, diretora da DOP. Em 2016, durante intervenção no DEP, por suspeita de corrupção na Divisão de Conservação, a diretora me conferiu a atribuição de colocar em funcionamento a Casa de Bombas (CB) Vila Minuano.

Foto 2 - Seções dos canais da CB Vila Minuano já corrigidos, conforme projeto estrutural

Foto 1 - Seções dos canais da CB Vila Minuano já corrigidos, conforme projeto estrutural

Fonte: Eng. Roberto Kranz

Na mudança de governo, em 2017, início da gestão de Nelson Marchezan na prefeitura, a engenheira Daniela assumiu a Direção Geral do DEP e me convidou para ser diretor de Obras e Projetos do Departamento. 

Continuamos a tarefa de concluir as obras da CB Vila Minuano.

Foto 3 - Indicação do nível máximo de alagamento no pátio da CB, após forte chuva antes da execução da chaminé de equilíbrio

Foto 2 - Indicação do nível máximo de alagamento no pátio da CB, após forte chuva antes da execução da chaminé de equilíbrio

Segundo a empresa contratada para a execução da obra e o engenheiro fiscal, em processo de aposentadoria, só faltava pedir a ligação de energia para a CEEE, mas, fomos surpreendidos pela companhia com a informação de que faltavam muitos serviços nas instalações elétricas para que fosse possível a referida ligação.

Como as coisas começavam a não dar certo, criamos uma comissão de engenheiros para vistoriar todos os serviços executados do empreendimento. Dessa forma, constatamos que:

Fonte: Eng. Roberto Kranz

Não existia uma ligação de água regular e sim um "pé de galinha", nas redes da Vila Minuano;

Da mesma forma, não existia uma ligação provisória de baixa tensão e sim um "gato" nas redes elétricas da comunidade;

A medição de energia, localizada em um cubículo junto a entrada do terreno da casa de bombas, estava posicionada em uma cota muito baixa, então sujeita a possíveis alagamentos, quando ocorresse falta de energia elétrica. Não foram previstos geradores de energia para essa obra;

A estrutura de concreto armado dos canais de gravidade e de descarga não haviam sido executados conforme o projeto estrutural. Além disso, o projeto hidráulico e estrutural da casa de bombas, utilizados na execução da obra, eram de concepção muito antiga e não foram devidamente revisados, como indica a boa técnica;

O dique, que pertencia ao objeto do contrato, foi executado com saibro, contrariando toda a bibliografia de mecânica dos solos, que prevê diques construídos com material argiloso;

Existia um poço de visita no pátio da casa de bombas, localizado entre a parte interna do dique e as comportas de gravidade, que proporcionavam alagamentos recorrentes, no pátio da casa de bombas, sempre que ocorriam fortes chuvas. Para nós, engenheiros, isso resultava de um erro de projeto;

A obra viária da avenida Severo Dulius havia desviado o arroio Passo da Mangueira, deixando a casa de bombas sem condições de funcionamento e necessitando grande movimentação de terra para tornar possível sua operação. 

Primeiramente, a comissão entendeu ser necessário resolver o problema de abastecimento de água e luz da obra. O DMAE fez uma extensão de rede de água, da rua mais próxima da Vila Minuano até o terreno da CB, e a Secretaria Municipal de Obras e Viação (SMOV) executou uma entrada provisória de baixa tensão, utilizando um contrato de manutenção elétrica de próprios municipais. Cabe salientar que o contrato da obra da casa de bombas, estava praticamente todo pago. 

 

Para resolver o problema, a Procuradoria Geral do Município (PGM) fez um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com a empresa contratada para execução da obra. As estruturas de concreto armado dos canais da CB foram revisadas e foram conferidas as ferragens onde havia discrepância entre o projeto estrutural e o que foi executado. O material saibro, do qual o dique foi construído contrariando os manuais de mecânica de solos, não foi aceito pela comissão de fiscalização e, portanto, deverá ser reconstruído pela empreiteira, conforme o referido TAC.

Foto 4 - Chaminé de equilíbrio com ferragem e forma pronta para receber o concreto bombeável

Foto 3 - Chaminé de equilíbrio com ferragem e forma pronta para receber o concreto bombeável

Fonte: Eng. Roberto Kranz

O DEP, além de três mestres em recursos hídricos, contava com um doutor e uma mestre em geotecnia, o que deu muito peso à decisão relativa ao dique. 

As instalações elétricas foram concluídas pela empreiteira, as bombas foram testadas com um gerador móvel alugado pela empresa e, assim, aceitas pela Comissão de Fiscalização. O TAC foi um instrumento legal, utilizado pelo município, de modo a obrigar a contratada a terminar as instalações elétricas, a adequar as estruturas de concreto armado e provar que a escolha do material utilizado para construção do dique foi correta. Caso a empresa não concluísse os trabalhos conforme o TAC, não poderia participar de licitações com o Poder Público por um longo período. Os equipamentos elétricos do cubículo de medição foram reinstalados na cota mais alta possível, para que em uma falta de energia não fossem danificados nem colocassem em risco aos operadores da CB. 

Foto 5 - A CB Vila Minuano internamente, com todas suas bombas

Foto 4 - A CB Vila Minuano internamente, com todas suas bombas

Fonte: Eng. Roberto Kranz

Foto 7 - Despejo no Arroio Mangueira, totalmente afogado

Foto 6 - Despejo no Arroio Mangueira, totalmente afogado

Fonte: Eng. Roberto Kranz

Foto 6 - Meia seção afogada em função da mureta base de apoio da grade de proteção.  Após a grade há um fosso que garante a altura de submergência das bombas

Foto 5 - Meia seção afogada em função da mureta base de apoio da grade de proteção.  Após a grade há um fosso que garante a altura de submergência das bombas

Fonte: Eng. Roberto Kranz

Esse trabalho foi executado pela equipe de manutenção do DMAE, pois não estava previsto no contrato. As normas da CEEE tinham sido alteradas e eles não queriam aceitar o projeto aprovado por eles. Obras de terra foram executadas em várias semanas pela SMOV-DCVU, para corrigir o traçado do Arroio Passo da Mangueira, alterado pela obra viária da avenida Severo Dulius, que estava com seus serviços paralisados. Dessa forma, tornaria possível a operação da CB. Uma chaminé de equilíbrio em concreto armado foi a solução para os recorrentes alagamentos no pátio da casa de bombas. A fábrica de pré-moldados do DEP foi responsável pela ferragem, a SMOV-DCVU executou as formas de madeira e o DEP Seção Norte de Conservação montou a ferragem. Quanto ao concreto, a PMPA tentou, sem sucesso, comprar de usinas localizadas na Grande Porto Alegre – esses fornecedores não queriam vender para prefeitura, pois alegavam que a mesma não honrava os pagamentos. A solução, então, foi dada em conjunto com a Associação de Moradores, que comprou o concreto e o seu lançamento, com a contribuição financeira de vários moradores do bairro Sarandi e Vila Minuano. Essa obra também não fazia parte do contrato com a empreiteira, sendo executada com recursos da Conservação do DEP, SMOV-DCVU e comunidades do bairro. Começaram, então, os testes de funcionamento da CB, cuja conclusão só ocorreu no meu último de trabalho na prefeitura, antes da minha aposentadoria. Nesse dia, eu e meu colega mais veterano, eng. Roberto Kranz, com uma turma da Seção Norte de Conservação Pluvial, descobrimos uma parede de alvenaria de pedra, dentro do penúltimo poço de visita a montante da casa de bombas, o que impedia o funcionamento adequado da casa de bombas, fazendo ocorrer alagamentos na Vila Minuano. 

A empresa contratada retirou a parede de pedra, alegando não saber de sua existência, pois o engenheiro responsável pela execução da obra havia falecido, já há algum tempo. A seguir, a casa de bombas começou a funcionar, ajudando a minimizar os alagamentos desta região. Recentemente, conversando com colegas em um grupo de "zap zap", discutimos sobre o funcionamento da Casa de Bombas Vila Minuano. As redes pluviais que chegam no poço de captação da CB, trabalham afogadas, dificultando muito sua operação. Ao que tudo indica, a obra ainda não acabou, devendo ser reformada, no futuro, com o devido rebaixamento do poço de captação. Existe tecnologia disponível para isto e, assim, o projeto seria atualizado, proporcionando uma melhor operação da casa de bombas. Isto poderia ter sido evitado com a prévia revisão dos projetos, antes da licitação. 

Fica aí a solução a ser dada pelos novos engenheiros de drenagem pluvial do município de Porto Alegre. 

Artigos | Revista da Astec, v. 23, n. 50, março 2023.

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