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Quais os benefícios da arborização nas cidades?

Foto 1Ficus benjamina – em local inadequado devido à proximidade rede pluvial

Foto 1 – Ficus benjamina – em local inadequado devido à proximidade rede pluvial

Fonte: do autor

Alexandre Panerai

Alexandre Panerai
Engenheiro Agrônomo da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb). Cursou Avaliação de Risco de Árvores, no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) – São Paulo - Associado da Astec.

Os benefícios ecológicos referem-se à melhoria microclimática. Ou seja, as árvores, por intermédio de suas folhas, absorvem radiação solar que diminui a reflexão e proporciona sombra; reduzem ou aumentam a velocidade dos ventos e aumentam a umidade atmosférica que refresca o ar das cidades.


Dessa forma, podemos declarar que além da função paisagística, os principais benefícios proporcionados pela arborização são:


Redução da velocidade dos ventos;
Diminuição da poluição sonora e acústica;
Absorção de parte dos raios solares;
Formação de sombra e aumento da umidade atmosférica, refrescando o ar das cidades;
Fornecimento do habitat, de comida e proteção a plantas e animais, aumentando a biodiversidade urbana;
Absorção da poluição atmosférica, neutralizando os seus efeitos na população;
Proteção do solo contra a erosão.

Assim todos nós percebemos a importância dos vegetais, sem nunca esquecer o imprescindível processo de fotossíntese, quando eles transformam o gás carbônico em oxigênio, sendo essenciais para sobrevivência da espécie humana. No entanto, as árvores precisam de cuidado constante para sua sobrevivência. Elas sofrem com a interferência de itens do mobiliário urbano, como postes, prédios, pontos de ônibus, redes de abastecimento de água, de energia, redes de esgoto, tendo que conviver com esses elementos. Todos nós sabemos da importância também desses elementos para a vida das pessoas nas cidades, porém, esquecemos que os vegetais também são essenciais.

Na nossa capital, temos o Plano Diretor de Arborização Urbana (PDAU), um instrumento de planejamento municipal para a implantação da política de plantio, preservação, manejo e expansão da arborização na cidade. Quanto ao plantio de novas mudas arbóreas na cidade, o PDAU determina espaçamentos, tamanhos e espécies.


Art. 13 – A distância mínima entre as árvores e os elementos urbanos deverá ser de:

a) 5 m da confluência do alinhamento predial da esquina;
b) 6 m dos semáforos;
c) 1,25 m das bocas- de- lobo e caixas de inspeção;
d) 1,25 m do acesso de veículos;
e) 2 m de postes com ou sem transformadores, de acordo com a espécie arbórea;
f) 3 m à 6 m de distância entre árvores, de acordo com o porte da espécie arbórea;
g) 0,6 m do meio-fio viário, exceto em canteiros centrais;
h) Nos locais onde o rebaixamento de meios-fios for contínuo, deverá ser plantada uma árvore a cada 7 m, atendendo às distâncias e aos padrões estabelecidos no Anexo 10.1 do PDDUA (L.C. 434/99)

Foto 2 Jacaranda mimosifolia (jacarandá mimoso)

No entanto o que percebemos é que o problema geralmente se dá nas árvores já estabelecidas há 30, 40, 50, 80 anos e, para quem não sabe, temos vegetais com mais de 90 anos em Porto Alegre. Diante desses desafios, os técnicos da prefeitura municipal – engenheiros agrônomos, biólogos e engenheiros florestais –, com uma gama enorme de conhecimentos, precisam resolver essas questões conflitantes. Muitas vezes, não são compreendidos pelos cidadãos. Um exemplo concreto são as instalações de semáforos para melhor fluidez e segurança do trânsito, evitando acidentes e mortes. Só que naquela esquina já existia um vegetal, que agora vai prejudicar a visualização do semáforo. O que fazer? Remover o vegetal ou podá-lo frequentemente? Em outro local, o vegetal está junto a um poste da iluminação pública. Segundo o PDAU, a distância mínima seria de 2 m. Esse vegetal sempre prejudicará a iluminação pública e a poda, mesmo que bem executada, nunca irá resolver por completo a questão. O ideal seria ter uma distância de no mínimo 5 m de cada luminária.

Foto 2 – Jacaranda mimosifolia (jacarandá mimoso)

Fonte: do autor

O ideal seria que os distanciamentos em entre o mobiliário urbano e os vegetais, que estão descritas no PDAU, fossem revisadas de tempos em tempos, com a participação da sociedade e com muita transparência, para que o cidadão saiba com clareza o motivo de não se plantar vegetal numa esquina, e também sobre cada intervenção que se faça na vegetação da cidade.


Então, o cuidado com a arborização urbana não é uma coisa simples, como retirar um galho ou suprimir todo o vegetal, mas é um estudo científico, uma inspeção criteriosa de técnicos com formação no ensino superior. Deveria ser um planejamento envolvendo todas as áreas da prefeitura.


Atualmente, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSURB) recebe aproximadamente 50 (cinquenta) solicitações por dia, ou 18 mil por ano, de cidadãos pedindo intervenção em árvores, informando quais os problemas que estão acontecendo, o que o vegetal está prejudicando a ele e à comunidade. Infelizmente, a capacidade do poder público responder ao cidadão é insuficiente, pois a estrutura operacional é inferior à demanda.


Pelo número expressivo de protocolos abertos pela população, percebe-se que é um serviço importante para a cidade! Entretanto, temos de um lado aqueles que querem uma poda rotineira dos vegetais e, do outro, aqueles que não querem tirar uma folha das árvores. Deveriam entender que as árvores envelhecem e assim necessitam de mais cuidados, mais manejos, às vezes, mais cirurgias.

Foto 3 Brachychiton populneus (perna-de-moça ou branquiquito), queda temporal

Foto 3 – Brachychiton populneus (perna-de-moça ou branquiquito), queda temporal

Fonte: do autor

Foto 4 Araucaria angustifolia e Schizolobium parahyba (guapuruvu), queda temporal

​Foto 4 – Araucaria angustifolia e Schizolobium parahyba (guapuruvu), queda temporal

Fonte: do autor

Todavia, percebemos que, muitas vezes, não raro, há uma intensa luta contra a remoção ou até contra a poda de vegetais, pois nossa cidade realmente vai ficando sem o verde. Atualmente, não está sendo realizado o plantio compensatório dos vegetais removidos – ou por não existir o plantio ou por não ser divulgado. Parece que a reposição de árvores não é mais tão valiosa como foi no passado, pois até os cidadãos pouco solicitam o plantio à prefeitura. Vejamos: em 2017, o sistema 156-POA registrou 312 pedidos de plantio e 11.688 pedidos de poda/remoção. Já em 2023, apenas ridículos 90 pedidos de plantio e 18.000 pedidos de poda/remoção. O que está faltando para o plantio ser valorizado e realmente ser compensatório?


Porto Alegre que foi a precursora e referência da causa ambiental, hoje corre atrás das árvores caídas, vegetais com risco e planta somente quando é possível. Isto é, sem um planejamento ambiental em conjunto com todas as secretarias municipais.


Destacamos que a valorização dos técnicos é um tema de relevante na atualidade, especialmente considerando-se a importância desses profissionais nas áreas ambientais. Os técnicos desempenham papéis cruciais e devem ser ouvidos, consultados, para que a prefeitura tenha um norte!
 


REFERÊNCIAS

 

OLIVEIRA, Pedro Silvério de. Cartilha sobre arborização urbana. Arandu (SP), Prefeitura Municipal, 2021. 10 p. Disponível em: https://www.arandu.sp.gov.br/public/admin/globalarq/uploads/files/CARTILHA%20SOBRE%20ARBORIZA%C3%87%C3%83O%20URBANA%20-%20ARANDU%202021.pdf. Acesso em: 9 jul.2024.


PORTO ALEGRE. Lei complementar nº 434, de 1º de dezembro de 1999. Dispõe sobre o desenvolvimento urbano no Município de Porto Alegre, institui o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental de Porto Alegre e dá outras providências. Porto Alegre: Leis Municipais, [2022]. Disponível em: https://leismunicipais.com.br/a1/plano-diretor-porto-alegre-rs. Acesso em: 9 jul. 2024.


PORTO ALEGRE. Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMAM). Plano Diretor de Arborização de Vias Públicas/ coordenado por Maria do Carmo Conceição Sanchotene. Porto Alegre: 2000. 204 p. il.

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Artigos | Revista da Astec, v. 24, n. 52, agosto 2024.

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