Quem tem medo do Museu do Negro?

Fonte: Largo Zumbi dos Palmares | Foto: @o_stif

Karen Santos
Vereadora em Porto Alegre, mestranda em Educação pela UFRGS e integrante do Coletivo Alicerce - Autora convidada.
Foto: Larissa Oliveira
Porto Alegre é reconhecida como a cidade mais segregada racialmente do Brasil, tanto na ocupação dos espaços urbanos quanto nos indicadores de desenvolvimento humano (IDH), que revelam profundas desigualdades entre pessoas negras e brancas. Essa segregação resulta de políticas históricas de remoções urbanas e exclusão social que marcaram a formação da cidade e ainda influenciam o presente.
Apesar desse cenário, o movimento negro porto-alegrense construiu referências nacionais na luta contra o racismo. Foi aqui que nasceu o 20 de novembro – Dia da Consciência Negra, recentemente reconhecido como feriado nacional, fruto da articulação do Grupo Palmares como contraponto ao 13 de maio. Porto Alegre também abriga o maior número de quilombos urbanos do país, entre eles o Quilombo da Família Silva, o primeiro a ser titulado no Brasil.
Nossa cidade teve ainda o primeiro clube social negro, o Floresta Aurora; concentra o maior número de terreiros de matriz africana do país; já foi referência em políticas públicas voltadas à capoeira; e, em 2020, elegeu a primeira Bancada Negra do Brasil.
A Lei Municipal que cria o Museu do Negro, aprovada em 2010, é resultado direto dessas mobilizações. Contudo, desde então, nenhum governo municipal assumiu a responsabilidade de implementá-la, negando um compromisso fundamental de reparação histórica e preservação da memória negra.
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Nosso mandato tem como prioridade a luta por essas reparações. Em 2024, ano em que inauguramos a Estátua de Zumbi dos Palmares no Largo Zumbi, ingressamos com uma ação judicial para impedir o leilão da antiga sede da Epatur, localizada em frente ao Largo. Defendemos que o espaço abrigue o Museu do Negro, transformando-se em um centro de memória, cultura e resistência.
A especulação imobiliária ameaça territórios historicamente negros, como a Cidade Baixa, que concentra expressivas atividades culturais, políticas e econômicas. Se a antiga sede da Epatur se transformar em um condomínio de luxo, o impacto será devastador. Por isso, também protocolamos um projeto de lei para tombar o Largo Zumbi dos Palmares como patrimônio cultural, garantindo a preservação de sua história e de seu significado simbólico.
A campanha pelo Museu do Negro une memória e mobilização. Ela inclui panfletagens, festivais culturais, reuniões comunitárias e ações políticas, compondo uma luta contra a venda da cidade e em defesa do direito de existir, de contar nossa história e de manter viva a memória negra.
Nossa luta é ancestral. A concretização do Museu do Negro é possível e urgente — um passo essencial para oferecer às próximas gerações um espaço de aprendizado, fortalecimento e resistência, assegurando a continuidade da marcha contra o racismo e pela reparação dos crimes da escravidão.
REFERÊNCIA
PORTO ALEGRE. Lei nº 12.706, de 1º de abril de 2020. Altera a ementa, o art. 1º, o caput do art. 2º, o art. 3º e o art. 4º da Lei nº 10.986, de 6 de dezembro de 2010, modificando para Museu da História e da Cultura do Povo Negro - Vereador Tarciso Flecha Negra a denominação do equipamento cujas diretrizes para a construção foram instituídas por aquela Lei. Porto Alegre: Leis Municipais, [2020]. Disponível em: http://leismunicipa.is/rbgyd. Acesso em: 25 out. 2025.
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