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Você já ouviu falar em arteterapia?

A arte pode ser pensada como sendo uma das formas de expressão do ser humano e podemos supor que o homem das cavernas já a utilizava desta maneira.



Margarete Alessandrini

Assistente Social aposentada da SMS da PMPA.*




“E muitas foram as manifestações de dor, angústias, luta, morte, vitórias e alegrias representadas nas paredes das cavernas (pinturas rupestres), o que nos faz pensar em projeções do inconsciente representadas por imagens e símbolos (ROHDE, 2016, p.1 )”.


As artes em geral têm o poder de alcançar emoções profundas, como refere Brown (2000). Com a arte, pode ser mudada a maneira como cada um se sente em relação ao mundo e a si mesmo. “A arteterapia consegue examinar a forma como você olha para si mesmo e para o mundo (ROHDE, 2016, p. 1)”.


Usando símbolos expressos em diferentes formas artísticas e usando diferentes materiais, a arteterapia propicia o contato com o eu interior – o que colabora com o autoconhecimento e a cura interna de quem pratica as vivências propostas pelo arteterapeuta, que é o profissional com a formação necessária para ser o facilitador do processo.


Conforme PHILIPPINI (2000), a arteterapia resgata a promoção, a prevenção e a expansão da saúde; auxilia a resgatar desbloquear e fortalecer potenciais criativos, por meio de formas de expressão diversas. Ademais, facilita que cada um encontre, comunique e expanda o seu próprio caminho criativo e singular, favorecendo a expressão, a revelação e o reconhecimento do mundo interno e inconsciente.

A arteterapia é uma possibilidade terapêutica, na qual a arte é o seu principal recurso, um instrumento catalisador, uma forma de expressão não verbal dos conteúdos internos. Como prática terapêutica possibilita unir arte e terapia em um único espaço, sendo o recurso artístico uma ferramenta facilitadora no processo de autoconhecimento, promovendo a expansão da consciência e da percepção acerca de si mesmo e do outro.


Porém, é necessário levar em conta que o mais importante nesse processo não é a arte pela arte, sua beleza e grandiosidade ou a questão estética e, sim, o significado do fazer, o processo que leva a um resultado e não o resultado em si. Por ser uma abordagem processual, o valor terapêutico da atividade artística está tanto no processo de criação, quanto nas possíveis reflexões e elaborações posteriores sobre os trabalhos realizados. Pelo exercício da arte busca-se resgatar a dimensão integral do homem. A arte se propõe a algo pessoal, único e expressa a linguagem do inconsciente, a qual se transforma em conteúdo para atingir os objetivos da arteterapia.


Objetivos da arteterapia


A arteterapia tem como propósito contribuir para que os sentimentos e emoções venham à tona, favorecendo o processo terapêutico, de maneira que o indivíduo entre em contato com conteúdos internos e muitas vezes inconscientes, normalmente barrados por algum motivo e que muitas vezes são mais difíceis de serem expressos em uma terapia verbal, assim expressando sentimentos e atitudes até então desconhecidos. A arteterapia é benéfica para pessoas de qualquer idade, sendo utilizada tanto para o autoconhecimento e autoexpressão, como também nos casos de sofrimento psíquico.


A arteterapia resgata o potencial criativo do homem, procurando a psique saudável e estimulando a autonomia e transformação interna para reestruturação do ser. A busca da terapia da arte é uma maneira simples e criativa para resolução de conflitos internos, é a possibilidade da catarse emocional de forma direta e não intencional.


Você sabe o que faz um arteterapeuta?


O profissional que aplica as técnicas da arteterapia é chamado de arteterapeuta e suas atribuições estão relacionadas às práticas artísticas em praticamente todas as suas manifestações relacionadas aos processos terapêuticos. O arteterapeuta costuma usar elementos da música, da pintura, do desenho e de outras expressões artísticas para catalisar sentimentos, procurando dar ao indivíduo totais condições para que consiga extravasar tudo que o impede de desenvolver melhor o autoconhecimento e ter mais saúde e qualidade de vida.


Atualmente, é comum ver um arteterapeuta atuando em tratamentos direcionados a pessoas de todas as idades, com resultados muito satisfatórios, o que torna a terapia complementar cada vez mais apreciada e recomendada para tratamentos psicológicos. Não é incomum que uma pessoa consiga se expressar melhor por meio de elementos da música, da escrita, da pintura, do desenho e da dança, e por esse motivo, a arteterapia está cada vez mais sendo empregada.


Portanto, um arteterapeuta é o profissional que emprega a arte para ajudar a desenvolver o autoconhecimento e em tratamentos terapêuticos de ordem psicológica, realizando atendimentos individuais e em grupos. Este profissional tem uma demanda de conhecimentos nas áreas da arte, da terapêutica e da arteterapia propriamente dita. Osório (VALLADARES, 2003) salienta que a arteterapia é uma prática terapêutica que trabalha com a intersecção de várias áreas, como educação, saúde e ciência, o que exige do profissional uma formação que envolva estes saberes.


O arteterapeuta pode pautar a prática a partir de diferentes abordagens teóricas, advindas especialmente da área da psicologia (psicanálise, psicologia analítica, gestalt-terapia, dentre outras), ocasionando, assim, diferentes formas de trabalhar os conceitos da arteterapia.


No caso da prática arteterapêutica pautada na psicologia analítica, na qual referencio o meu trabalho, tenho presente que a arte tem finalidade criativa, que a energia psíquica consegue transformar-se em imagens e, por meio dos símbolos, colocar seus conteúdos mais internos e profundos. Nesta abordagem, também é importante dar atenção aos sonhos, por trazerem para o consciente o conteúdo inconsciente e que muitas vezes não vem à tona de outra forma, buscando-se, assim, a sua significação.


* Mestre em Serviço Social pela UFRJ com experiência na área da educação, assistência social, saúde e recursos humanos. Professora e supervisora acadêmica do curso de Serviço Social durante a trajetória profissional. Arteterapeuta em formação na Psiquê – Clínica Terapêutica, tendo realizado estágio com grupos e atendimento individual na área da saúde.



REFERÊNCIAS


BROWN, D. Arte Terapia: fundamentos. São Paulo: Vitória Régia, 2000.


FISCHER, E. A necessidade da arte. 3. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1971.


PHILIPPINI, A. Cartografias da coragem: Rotas em Arteterapia. Rio de Janeiro: Pomar, 2000.


ROHDE, Bárbara Gehrke. O que é arteterapia de abordagem junguiana? Porto Alegre, 2016.


VALLADARES, Ana Cláudia Afonso. Arteterapia com crianças hospitalizadas. Revista Eletrônica de Enfermagem: UFG/Faculdade de Enfermagem, Goiás, v. 06, n. 03, p. 410-411, 2004. Disponível em https://revistas.ufg.br/fen/article/view/827/960 . Acesso em: 30 jul. 2020.



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