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Internet, do nascimento aos dias atuais... e além

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E-mail: asc@inf.ufrgs.br Alexandre Carissimi

Professor nível superior – INA/INF/UFRGS;

Mestre em Ciência da Computação (UFRGS/1989);

Doutor em Informática (INPG, Grenoble, França, 1999).

Imagine sua vida hoje sem transporte por aplicativo, sem redes sociais, sem saber a situação do trânsito, sem fornecer um endereço e ser guiado a esse destino (na maioria das vezes), sem ir fisicamente a uma agência bancária, sem reservar hotéis, voos ou comprar bens de consumo no conforto de sua casa. E, agora, em tempos de pandemia, sem tele-entrega, sem o contato com parentes e amigos por aplicativos, sem possibilidade de home office, e, ainda que com limitações, sem o ensino remoto. A lista é longa. E, na verdade, tudo isso iniciou 51 anos atrás, com a Internet. Vamos viajar um pouco por essa história?

Foto ilustrativa/Freepik

A origem da Internet é um projeto militar dos Estados Unidos, da década de 60, cujo objetivo era distribuir a capacidade de comunicação e computação em diferentes pontos do País e ligá-los em rede. Se um ponto fosse comprometido pelo ataque de uma potência estrangeira, os demais continuariam a operar. A Advance Research Projects Agency (ARPA), vinculada ao Departamento de Defesa americano, financiou esse projeto, que envolveu pesquisadores e universidades norte-americanas. A primeira comunicação foi entre um computador na Universidade da Califórnia (UCLA) e outro no Stanford Research Institut (SRI), com o envio do par de letras “l” e “o”, de login. O sistema pendurou no “g”. O experimento foi realizado pela equipe de Leonard Kleinrock, em 29 de outubro de 1969, data esta considerada como o aniversário da Internet. No final de 69, já havia quatro computadores interligados e nascia a Arpanet, uma rede isolada e fechada a apenas alguns participantes. Ao longo da década de 70, outras redes isoladas foram criadas e veio a necessidade de interligá-las. Surge o trabalho de Vinton Cerf e Robert Kahn, e o termo internet (i minúsculo) é cunhado na fusão das palavras interconnect e network (interconexão de redes).

Os anos 80 marcaram um crescimento impressionante de redes, mas ainda voltadas para o uso em universidades e centros de pesquisa. É dessa época a Bitnet que, talvez, alguns lembrem de tê-la usado para enviar mensagens. Ainda na década de 80, é criado o padrão de protocolos TCP/IP para permitir a comunicação entre máquinas (pense em um protocolo como o idioma usado entre os computadores). A Internet, agora com “I” maiúsculo, por ser o nome da rede de redes, se torna uma realidade.

Mas, o fenômeno Internet ocorre mesmo na década de 90, por dois fatos decisivos. Primeiro, a eliminação da restrição de seu uso para fins comerciais. Segundo a criação da World Wide Web (www), ou apenas Web, no Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire (CERN), Suíça, por Tim Bernes-Lee e equipe, entre 1989 e 1991. A Web é baseada em quatro componentes essenciais: um servidor; um cliente (navegador); a linguagem HTML, para criar e descrever páginas Web; e o protocolo HTTP para requisitar essas páginas. A simplicidade e a elegância dessa solução fizeram com que empresas, universidades e centros de pesquisa começassem a ter seus próprios servidores Web. Como consequência, a segunda metade da década de 90 foi marcada por um crescimento exponencial da Internet. É dessa época o início do uso do correio eletrônico via Web (webmail), do comércio eletrônico (nasce a Amazon), do compartilhamento de informações e arquivos, das primeiras redes P2P (Napster). O mar de informações que já havia na Web criou o problema de como achá-las, e assim surgem os primeiros buscadores, Altavista, Yahoo e, depois, o Google. Muitas empresas foram criadas na esteira desse crescimento, o que, na virada do século XX, levou a bolha da Internet, pois várias se aventuraram na bolsa de valores prometendo lucros vertiginosos antes mesmo de provarem ser financeiramente viáveis.

Vieram os anos 2000 e, com eles, uma fase de investimento e inovação em infraestrutura de redes, em equipamentos e tecnologias de telecomunicação e na expansão da telefonia celular. As companhias de telefonia e televisão a cabo se lançam, de forma agressiva, no mercado de acesso à Internet de banda larga, com as soluções de modem ADSL e a cabo, em substituição aos modems de linha discada. A banda larga populariza ainda mais a Internet. Aparecem plataformas e modelos de negócios até então desconhecidos e mesmo inimagináveis pela sociedade, e que se mostraram extremamente disruptivos, rentáveis e mudaram nossos hábitos e comportamento. Em um piscar de olhos, o novo ativo mundial passou a ser a informação. Surgem as redes sociais, a distribuição de vídeo por stream, a computação em nuvem, as criptomoedas, a expansão do comércio eletrônico, ferramentas de colaboração, de comunicação e de videocolaboração, os games em rede.

A entrada definitiva da Internet na vida das pessoas se dá com as redes WiFi (sem fio), do roteador de casa às redes 3G, 4G, e, recentemente, 5G. A onipresença das redes WiFi em shoppings, restaurantes, bares, na rua, aliadas a todos os dispositivos portáteis existentes (tablets, smartphones, notebooks...) não apenas permite que se esteja permanentemente conectado enquanto nos deslocamos, como também abriu um leque de oportunidades e aplicações associadas à nossa localização física (geolocalização).

Nos últimos dez anos, a Internet evoluiu de uma rede para pessoas para também uma rede para objetos. É a Internet das coisas, com sua infinidade de sensores que captam informações do dia a dia e as inserem nessa grande nuvem de dados e informações que é a Internet. Fazem parte desse mundo as mais diferentes pulseiras, relógios e gadgets que controlam batimentos cardíacos, quantidade de passos, queima de calorias, trajetos etc. Semáforos e câmeras de vigilância também ficaram inteligentes, lendo placas e identificando pessoas, por meio das mais avançadas técnicas de processamento de imagens e de inteligência artificial. O volume de dados gerado fornece uma informação valiosa sobre hábitos de consumo e do comportamento das pessoas. É a hora do Big Data, ou ciência de dados, que, associando alto poder computacional, inteligência artificial e aprendizado de máquina, fornece subsídios para estratégias comerciais e de gestão, como no agronegócio. A Internet se torna ubíqua nas nossas vidas, ou seja, onipresente e transparente, no sentido de que ela está ali e nós nem nos damos conta (até que algo dê errado).

Qual o futuro da Internet? A parte fácil de tentar fazer uma previsão é dizer que cada vez mais avanços tecnológicos contribuirão para se ter redes mais velozes, mais onipresentes, mais confiáveis, a um custo menor. O avanço em processadores complementa a necessidade de tratarmos os dados que chegam pela rede na velocidade necessária. O difícil é tentar imaginar quais aplicações e serviços virão, pois o poder da criatividade humana frente a essas novas oportunidades é surpreendente. Podemos facilmente dizer, até porque já está na nossa porta,  a evolução dos carros autônomos como solução de problemas de mobilidade e redução de acidentes de trânsitos, a eliminação do papel moeda, a automação cada vez maior na produção e em serviços, a popularização da telemedicina e de diagnósticos cada vez precisos com o auxílio de inteligência artificial, uma melhor gestão de recursos naturais, de fontes de energia e as cidades inteligentes. Há futuristas que falam em chips implantados no cérebro humano e, assim, nós mesmos seriamos parte da Internet.

Mas, nem tudo é um mar de rosas, principalmente, em um país como o Brasil, de dimensões continentais, com discrepâncias sociais e distribuição demográfica concentrada em grandes centros. Um grande desafio é fornecer um acesso universal, de qualidade, a um custo acessível para que todos os brasileiros possam usufruir das benesses desse novo mundo. Outro desafio são todas as questões de privacidade e confidencialidade de dados, afinal, estamos muito próximos de tornar em realidade a ficção de George Orwell, o “Grande Irmão”, do seu livro “1984”. Mas, como qualquer tecnologia, devemos aprender a usá-la e não a demonizá-la. Por fim, “Qual é mesmo a senha do WiFi”?

Referências  

THE   HISTORY of Internet. In:  WIKIPEDIA. [S.l.: S.n.], 2021. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/History_of_the_Internet.  Acesso em:  06 jan. 2021

CERF, V., KANH, R. A Protocol for Packet Network Interconnection, IEEE. Transactions on Communications Technology: [s.l.], v. 22, n. 5, p. 627–641,  1974.

Disponível em:  https://ieeexplore.ieee.org/document/1092259.  Acesso em:  06 jan. 2021.

ORWELL, George. 1984. 1. ed.  São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

Artigo | Revista da Astec  v. 21 n. 47 janeiro 2021.  

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